domingo, 11 de outubro de 2009

POR QUE NÃO LER OS CLÁSSICOS? EIS A QUESTÃO.


RESUMO

O interesse pela realização de um estudo sobre a rejeição dos alunos quanto à leitura, principalmente da literatura clássica, iniciou-se durante o primeiro semestre nas Escolas Estaduais Dom José de Haas e Industrial São José no Vale do Jequitinhonha em Araçuaí. Estamos diante de uma rejeição quando nos referimos à leitura; a perda de interesse é encontrada em todas as séries do ensino fundamental e médio. Diante disso, deve-se estar ciente de que o gostar de ler não tem nada a ver com herança genética ou biológica, ninguém nasce gostando de leitura, aprendemos a gostar de ler e essa aprendizagem é cultural. O fato demonstra, então, que o modo de abordar a literatura na escola não está recebendo a atenção necessária, um estímulo adequado. Vê-se, portanto, a necessidade de buscar, criar soluções para que as crianças e adolescentes tenham uma experiência positiva em relação à leitura. Neste trabalho além de mostrar e analisar a pesquisa feita quanta a essa rejeição ao livro literário também pretende, portanto, apresentar propostas pedagógicas que podem possibilitar ao aluno uma experiência gratificante em ler, não uma rotineira tarefa escolar. Enfim, faz-se necessário uma mudança na prática pedagógica dos educadores como meio de criar no educando encantamento pela leitura.

Palavras-chave: leitura, literatura, Ensino Médio.


Introdução

Para professores de língua portuguesa, a seguinte afirmação de Perini causa, no mínimo, desânimo em relação ao ensino dessa disciplina:
Argumenta-se que uma das finalidades do ensino gramatical é conscientizar o estudante de sua língua, da língua que ele deve aprender a manejar, seja lendo, seja escrevendo. Mas certamente muito poucos estudantes chegarão a produzir textos literários; digo mais: poucos chegarão a adquirir o hábito de ler textos literários. Mas é certamente necessário (embora ainda estejamos terrivelmente longe de consegui-lo) que eles cheguem a manejar a linguagem técnica e jornalística, pelo menos como leitores (PERINI, 1985, p. 97)

As qualidades da literatura que a tornam fundamental na formação dos estudantes estão muito além do prosaico comunicador diário e trivial. Há a linguagem artística, que entra no terreno do imprevisível e surpreende pelo inédito e pela criatividade. Ilumina recantos da vida normalmente obscuros, inacessíveis ao gasto linguajar comum. Sabe ser jocosa, sarcástica. E comove, tocando a sensibilidade, libertando no leitor emoções que de outra forma talvez nunca se manifestassem e por isso rejeitam as boas obras. Quando se fala em rejeição pelos clássicos, logo vêm à cabeça as possíveis causas dessa antipatia: Primeiramente, pensa-se no fator sócio-econômico que impossibilita a aquisição de bons livros; depois, no hábito da leitura que é socialmente construído e os pais não cultivam esse hábito; a precariedade dos acervos que as bibliotecas das instituições públicas de ensino dispõem, tanto que ao indicar um livro o educador sente-se limitado às obras que a escola oferece; e finalmente, a leitura como atividade avaliativa obrigatória aumenta o desinteresse dos jovens pela mesma.

Seria, então, uma boa opção criar atividades dinâmicas na sala de aula para estimular o gosto pela leitura, tanto nos jovens quanto nas crianças, mais facilmente influenciáveis e com um futuro em aberto cheio de gavetas onde guardar o prazer da leitura.

Desenvolvimento

Leitura: prazer x obrigação

Pesquisa realizada nas escolas Estaduais Dom José de Haas e Industrial São José
Método

1. Sujeitos
Participaram da pesquisa 160 alunos, de idade entre 14 e 18 anos. Os alunos freqüentam a 2ª série do ensino médio das Escolas Estaduais Dom José de Haas e Industrial São José, no Vale do Jequitinhonha em Araçuaí. Pertencentes ao nível sócio-econômico médio-baixo, sendo que 40% trabalham durante o dia e estudam no período noturno.

2. Material
Para a coleta de dados foi utilizado um questionário com questões abertas organizado em 2 (duas) partes. A primeira parte era referente ao gênero que costumam ler; a segunda, referente ao por que da escolha do gênero.

3. Procedimento de coleta de dados
O questionário foi aplicado coletivamente. Foram lidas as instruções a cada número do questionário, esclarecia as dúvidas e esperava que os alunos respondessem para, assim, passar para o número seguinte. Este procedimento foi utilizado para todas as partes do questionário. Ao final da aplicação, cada educando entregou o questionário respondido.


Tabela 01: TIPOS DE LEITURA

Resposta
Nº. de alunos
BEST SELLER
05
AUTO-AJUDA
23
ENCICLOPÉDIAS
00
LITERATURA CLÁSSICA
04
BIOGRAFIA
00
POESIA
05
ROMANCE
05
ROMANCE POLICIAL
01
FICÇÃO CIENTIFICA
06
GIBI
42
REVISTAS INFORMATIVAS
03
REVISTAS ESPECÍFICAS
(PÚBLICO JOVEM)
66
Total
160


Resultados

Constatou-se que a leitura de livros (best sellers, poesia, ficção científica, etc.), é a forma menos freqüente entre os 160 educandos pesquisados na 2ª série do Ensino Médio das Escolas E. E. Industrial São José e E. E. Dom José de Haas. Em que 97.5% dos entrevistados responderam que não possuem a prática de leitura de livros literários.

A tabela 01 mostra que as leituras freqüentes destacam-se livros de auto-ajuda (14.4%) e revistas de especificas para adolescentes (41.3%), gibis (26.3%), ficção cientifica (3.7%), revistas informativa (1.9%) e apenas (2.5%) gostam de ler os clássicos da literatura, porém nenhum gosta de ler enciclopédias e biografias.

Dentre os livros lidos em menor freqüência foram citados: romance policial e literatura clássica (0.6 %), livros de ficção científica (3.8%), de poesias (3.1%) e romance (3.1%).




Gráfico 01

Após ouvir os estudantes justificarem o porquê da rejeição aos livros literários foi pedido a eles, que preenchessem um questionário. As perguntas têm por objetivo traçar um perfil do aluno com o qual se trabalha e analisar suas justificativas.

O questionário contém as seguintes perguntas e respectivas respostas, analisadas:


Gráfico 02


A maioria dos alunos, quase 97.5%, responderam que não gostam de ler clássicos de nossa língua, mas preferem assistir a filmes ou escutar CDs que se baseiem na Literatura Brasileira. Essa resposta parece um pouco contraditória, pois não basta gosto pela leitura para a formação de um leitor, é necessário que haja efetivamente leitura.

Ao argumentar o porquê de ter escolhido como resposta a alternativa “c”, a maioria dos alunos queixa-se, novamente, da linguagem de difícil entendimento dos livros. Para eles, os filmes e CDs servem, dessa forma, como facilitadores no entendimento básico do enredo.

A idéia de que o vocabulário dos clássicos é difícil parece estar preconcebida. Porém, assistindo aos filmes não encontram dificuldades para entendê-lo. Assim, basta demonstrar para o aluno que, primeiramente, ele deve tentar ler o livro e, somente depois, tachá-lo como complicado ou não.
OBS: Nenhum aluno respondeu “a” e “d”.

Mais de 50% dos alunos responderam que não lêem livro. Isso demonstra que não podemos achar que os jovens e crianças não são como antigamente, que só se importam com computadores e vídeo game, frase que me parece uma desculpa para o nosso próprio fracasso. Porém, não é a hora de procurar culpados, mas de buscar soluções práticas que possibilitem o resgate e devolvam aos jovens o prazer da leitura.


Conclusão

Diante dos resultados obtidos com a pesquisa, percebe-se que não adianta querer, simplesmente, mudar a metodologia aplicada, crendo que, ao ler para os alunos como se estivesse em um circo, inventando, gritando, saltitando, pulando, o prazer pela leitura aparece. Esse nada mais é do que um pensamento equivocado. Sendo assim, é preciso incentivar, pela curiosidade, despertar no aluno interesse e desejo de ler.

Para que isso aconteça é preciso inovar. Uma simples narrativa pode ser trabalhada de várias formas: como re-conto, dramatização, mudança de foco, dentre outros. Já com o livro, dependendo da turma, começar com leituras mais simples até chegar as mais complexas através de estudo da perigrafia, para que o aluno se familiarize com tudo em volta para despertar o interesse de saber o que há por dentro da obra. Ou então, ler um capítulo do livro, por exemplo, e discutir sobre ele, gerando no aluno uma ansiedade em conhecer o conteúdo todo. Pode também criar cartazes em forma de propaganda, nos moldes dos anúncios de jornais, dos livros lidos. Ou mesmo explorar tudo o que o livro oferece desde a capa até os anexos. Como atividade pedir aos alunos que criem outras capas, anexos, epígrafes, dê finais variados a mesma história, análises de personagens, ler a história em grupo com cada componente lendo um capítulo e contando aos demais o enredo, montar peças teatrais dos enredos, produzir seu próprio livro a partir da análise, fazer círculo para comentário da estrutura. Assim, os alunos conhecerão o caráter lúdico da leitura e tomarão gosto pela mesma.

Muitas vezes, para que o aluno tenha compreensão do livro, é necessário que o professor leve informações prévias, sejam de caráter político, social, econômico ou histórico da época em que situa o conflito da narrativa. Informações essas que podem não fazer parte dos conhecimentos dos leitores, por isso, impedi-lo-ia de enxergar com maior riqueza e clareza o que diz o livro. Também, demonstrar o caráter lúdico do trabalho que envolve a leitura realizada na sala e extraclasse; pois, como obrigação afasta os alunos. Para que seja revertida tal idéia, é preciso criar uma atitude positiva do aluno frente ao trabalho que a ele será apresentado.

Em suma, a leitura é válida seja de qualquer gênero desde que bem aproveitada. Mas, é imprescindível mesclar e saber como introduzi-la desde a infância até a fase adulta. Por isso, seria um crime não apresentar a nossa juventude os clássicos, bem como desprezar os não menos expressivos autores atuais. Se o jovem iniciar com prazer o hábito da leitura, com certeza adquirirá senso crítico para distinguir o bom do mau livro.


Referências

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RIBEIRO, V.M. (1999). Alfabetismo e atitudes. Campinas: Papirus. Ribeiro, V. M. (2001). A promoção do alfabetismo em programas de educação de jovens e adultos.

SOARES, M.B. Letramento: um tema em três gêneros. Autêntica: Belo Horizonte, 1998.